segunda-feira, junho 22, 1998

Intolerantes à Vida, NÃO! (1998)

Intolerantes à Vida, NÃO!

Às questões mais importantes costumamos referir-nos, enfaticamente, como “de Vida ou de morte”. Ora a questão que nos vai ser colocada no próximo Domingo é precisamente uma escolha “DE VIDA OU DE MORTE”. De tão dramática que é, quase nos custa expor serenamente o que sobre ela pensamos e sentimos. Fazemo-lo, ainda assim, por um imperativo de consciência diante do perigo real de que a “Civilização da Morte” se instale também entre nós.Esta nova “civilização” não considera a Vida como um bem absoluto e sagrado. O valor da Vida é comparado com outros valores cada vez mais valorizados: o conforto individual, a produtividade, a oportunidade, a consideração social, o desafogo económico, o curso, etc , etc , etc . Como todos os “avanços”, como todos os sinais de decadência, esta “civilização” faz a sua entrada silenciosa pela sociedade urbana e tem duas grandes bandeiras: a defesa do aborto - a morte dos inconvenientes; a defesa da Eutanásia (que hão-de propor a seguir) – a morte dos mais velhos e doentes, considerados inúteis. Não conservará o Portugal português e humano os seus brandos costumes, o lugar que sempre teve para mais um? Não saberá criar oportunidades de vida e de vida condigna para os que vêem o seu direito à Vida ameaçado pela própria mãe?Como têm alertado diversos espíritos lúcidos, os profetas do nosso tempo e líderes espirituais como o Papa, o fim do respeito pela Vida trará consequências gravíssimas que lentamente se manifestarão. Já hoje existe a percepção nítida de que estamos construindo uma sociedade em que faltam valores. Este referendo será uma oportunidade para salvarmos um dos que resta – o mais precioso de todos: A Vida!Uma Vida pode mudar o mundo, pode inverter o sentido da história. Como seria Portugal se Afonso Henriques, Nun’Álvares ou o Infante D. Henrique tivessem sido vítimas de aborto? O leitor que segura esta folha: que podia fazer no ventre da sua mãe para se defender de uma injecção assassina, se não tivesse tido a fortuna de uma mãe generosa? Se a mãe do menino da J.S. tivesse querido abortar e o filho pudesse já então falar, que diria à mãe nessa hora? “Aborta-me se te incomodo” ou “Salva-me, pela tua rica saudinha”?…Cientificamente, não há dúvidas de que o ADN, o código da Vida, está definido a partir do momento da concepção. Abortar é então tão grave como matar uma criança, um velho ou um adulto sem qualquer justificação. Se não for assim, estaremos a condicionar a dignidade humana e o “direito de viver” à idade do indivíduo. Porque todos temos a mesma dignidade humana e o mesmo direito à Vida, tão criminoso é matar um político ou um bancário, um homem ou uma mulher, um africano ou um asiático; o Sérgio Sousa Pinto ou a Simone de Oliveira; um deficiente mental ou um génio!
Na bandeira de Portugal fomos ensinados a ler o vermelho como o sangue dos heróis derramado pela Pátria. Será a democracia, conduzida por um primeiro ministro católico, responsável por juntar a esse sangue o de legiões de inocentes mortos nos hospitais do estado, com o dinheiro das nossas contribuições, só para que um jovem socialista possa ter uma carreira política fulgurante e aproveitar os tempos de antena que a oportunidade lhe oferece para promoção da imagem pessoal? Um pequeno país empenhado em missões humanitárias na Guiné, com o fim da chacina e devolução da liberdade a Timor, pioneiro na abolição da escravatura e da pena de morte, pioneiro no lançamento da acção social do estado com as Misericórdias… capaz de ir a Fátima a pé e ao fim do mundo num barco, deixar-se-á colectivamente enganar e manchar a sua história com este enorme passo atrás na verdadeira Civilização?Ainda não se esbateram totalmente os ecos de indignação com os crimes abomináveis da Pedofilia na Europa e também em Portugal. Certamente são contra a Pedofilia a maioria dos defensores do sim no referendo próximo. Como podem então achar mais grave um crime sexual do que uma acção contra a Vida? Se é grave uma ofensa à dignidade pessoal, como pode ser menos grave um atentado violento à base e condição prévia dessa dignidade - a própria Vida?Vivemos tempos de confusão, de materialismo, de grande inversão de valores. Desconfiamos das leis e do seu poder dissuasor de crimes contra a humanidade como o aborto, clandestino ou legal. Mas mesmo em tempos assim existem no seio dos Grandes Povos, das Grandes Nações, reservas de Consciência, heranças de Dignidade, tradições de Virtude, clarezas de Discernimento que reaparecem para distinguir o Bem do mal, a Vida da morte, a Verdade da mentira. Portugal é uma destas grandes nações. Os Portugueses são um destes poucos grandes Povos. “Em tempos de…” confusão, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz NÃO!”

Guimarães, 22 de Junho de 1998
Luís Botelho Ribeiro in "Espírito de Guimarães", Ed. Cidade-Berço, 2005