terça-feira, outubro 30, 2007

Epístola aos paredenses


Em 11 de Fevereiro, foi-nos colocada a seguinte pergunta: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?». Cinquenta e seis por cento dos eleitores abstiveram-se – muitos dos quais achando que uma tal questão nem se devia colocar. O referendo não foi vinculativo. Apesar disso e dos apelos do Sr. Presidente da República a favor de uma legislação moderada, responsável e em linha com as melhores práticas europeias, este governo tem-se empenhado em fazer aprovar e aplicar uma legislação exorbitando amplamente o alcance da questão referendada, visando facilitar ao máximo a prática do aborto num país de enraizados valores católicos e a braços com uma grave crise de natalidade.


Ainda não satisfeito com os 2500 abortos já executados pelo Estado com o dinheiro dos nossos impostos, e cujo sangue cairá sobre “nós e sobre nossos filhos” (Mateus XXVII, 25), o governo desencadeia agora duas novas ofensivas:


  1. Tenta impor um código deontológico à Ordem dos Médicos, de onde desapareça a sagrada obrigação de salvar SEMPRE – facilitando assim o aborto e abrindo as portas à eutanásia, cuja doutrinação já começou entretanto na comunicação social

  2. Cria um novo programa de “aborto de proximidade” permitindo a realização de aborto químico nos (vãos de escada dos) Centros de Saúde, segundo uma modalidade completamente encapotada durante a campanha do referendo.


Perante tudo isto, aos cristãos põe-se a alternativa entre aceitar colaborar (pelo silêncio e pelos impostos entregues) com esta ofensiva contra a Vida que acreditam ser “dom de Deus”, ou invocar a ajuda do Alto para se opôr a mais esta invasão bárbara.

Um grupo de cristãos desta paróquia está determinado a resistir à violência com a força mansa da sua Fé, da Fé do povo português, do povo de Paredes. Por isso apelamos a todos os corações de boa-vontade para que se nos juntem numa jornada de oração – num “cerco de Jericó” como já tem sido feito em quase cinquenta paróquias portuguesas, conforme se lê em http://www.cercojerico.blogspot.com/). O objectivo é associarmo-nos para a defesa dos objectivos seguintes

  1. Preservar o Centro de Saúde de Paredes como um centro de Vida e não o deixar transformar-se num antro de morte, num matadouro humano;

  2. Apoiar a “ordem dos médicos” na sua causa de defesa do estatuto deontológico ao serviço da Vida;


A estes juntam-se os objectivos gerais do “cerco”:

  • pela defesa da vida desde a concepção até ao final natural da vida

  • apoiar a iniciativa de um grupo de 33 deputados que requereu ao Tribunal Constitucional a verificação da constitucionalidade da lei no dia 5-7-2007;

  • para que cada mulher grávida tenha a coragem de dizer não ao aborto e receba o apoio de que necessita;

  • por todos os matrimónios e união e paz nas famílias;

  • pelos sacerdotes e vocações de especial consagração;

  • pelas crianças vítimas de abusos sexuais, abandonadas e maltratadas;

  • por uma correcta educação sexual dos adolescentes e jovens;

  • pelos jovens e para que encontrem a vocação a que Deus os chama;

  • pelos dirigentes políticos, para que governem com justiça;

  • para que o AMOR DE DEUS preencha todos os vazios e incertezas que assolam os Portugueses.


As primeiras acções que, com a ajuda de Deus, levaremos a cabo, incluem:

  1. Uma corrente de oração ininterrupta durante sete dias e sete noites, para a qual se convidarão explicitamente as confrarias das almas e do santíssimo;

  2. Um pedido aos senhores párocos, no sentido de incluírem uma menção explícita aos nascituros abortados na “oração dos fiéis”, sem prejuízo de se mandarem celebrar missas por essa intenção;

  3. Um apelo à apresentação de participações no Livro de Reclamações do Centro de Saúde de Paredes, invocando perda de confiança na idoneidade ética de Paulo Sarmento, coordenador da área de saúde materna na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte;

  4. Distribuição de informação aos fiéis (especialmente nas celebrações dos dias de “todos os santos e de “fiéis defuntos”) e um pedido especial aos fiéis para que tenham presentes nas suas orações os nascituros abortados às mãos da “civilização da morte”, contra a qual tantas vezes alertou João Paulo II.

  5. Informação dos utentes dos Centros de Saúde sobre o projecto de “aborto químico” a realizar nessas instalações pelo mesmos profissionais responsáveis pelo atendimento normal, (num estranho paralelo com a política de co-incineração...) e sobre os termos de possíveis reclamações a apresentar: Pelo direito a ser atendido por médicos/enfermeiros comprometido com a Vida e com os respectivos códigos deontológicos; Pelo direito a que instalações construídas com os nossos impostos para defender a Vida e a Saúde, não se transformem agora num “campo de extermínio humano”

  6. Discussão de outras vias cívicas e democráticas de defesa da Vida e da Doutrina Social da Igreja;

  7. A todo o momento confiar na acção subtil e poderosa do Espírito Santo para dar cumprimento ao pedido de Nossa Senhora de Fátima na aparição de 13 de Outubro de 1917 «Não ofendam mais a Nosso Senhor que já está muito ofendido»;

sexta-feira, outubro 12, 2007

Concorda com... o seu centro de saúde transformado em matadouro?

«Até ao final do ano haverá quatro centros de saúde a promover a interrupção voluntária da gravidez (IVG) quimicamente. O programa arranca em Viana do Castelo [..] e seguir-se-ão, até ao final do ano, os centros de saúde de Penafiel, Paredes e Amarante"» cit. do DN de 22. 09. 2007.

Foi com um misto de estupefacção e revolta que lemos as notícias recentes sobre a intenção de iniciar o programa de abortos em centros de saúde – e logo com três unidades do distrito do Porto entre as quatro primeiras do país: Paredes, Penafiel e Amarante. As notícias faziam-se eco de declarações do coordenador da área de saúde materna da Administração Regional de Saúde do Norte, o zeloso executor a Norte da política criminosa deste governo contra a vida humana.

Perante isto, podem ficar a assistir passivamente a esta verdadeira provocação os cidadãos de municípios que no passado dia 11 de Fevereiro responderam maioritariamente “não”? Se é certo que o país se inclinou para o “sim”, iludido por uma série de mentiras postas a circular na campanha eleitoral, não é menos certo que em todos os quatro concelhos indicados para mais esta “inovação” do governo os cidadãos responderam expressivamente “NÃO”. Com tantos concelhos por esse país fora em que o “sim” venceu largamente, a escolha cínica destes quatro não pode ser interpretada senão como uma provocação gratuita aos sentimentos humanistas e religiosos da maioria dos seus habitantes.

Relembremos os resultados do referendo ao aborto em 2007. Em Penafiel, o “sim” perdeu expressivamente por 37% contra 63%. Em Paredes, perdeu novamente por 33,9% contra 66,1%, o mesmo sucedendo em Amarante onde, apesar de se tratar de uma autarquia do PS, o “sim” se ficou pelos 41,7%. Finalmente em Viana do Castelo, mesmo tratando-se de um município fortemente urbano, o “não ao aborto” saiu também aí vencedor com 54,1% dos votos.

Se o grupelho que nos governa(?) tivesse um mínimo de respeito pelos valores democráticos, graças aos quais ocupa o poder, não deixaria de atender de alguma maneira à vontade expressa pelos cidadãos através do voto, lançando esta medida em concelhos escolhidos ao acaso, e não segundo este critério capcioso e provocatório, como dissemos. Se este fosse um governo de democratas, não se atreveria a promover os abortos em locais sem condições para atender possíveis complicações – os centros de saúde - depois de ter apresentado a legalização do aborto como a solução para o “aborto em vão de escada, sem condições de segurança para as mulheres”. Se este fosse um governo de gente responsável, não entraria a elaborar tardiamente um conceito de “aborto de proximidade” de que nunca se falou durante a campanha eleitoral – uma política, portanto, gizada às escondidas do eleitor, sem o seu aval, contraditória com as ideias anunciadas durante a campanha e, consequentemente, um ilícito democrático.

Por outro lado, será que o anunciado projecto já levou em linha de conta a provável (e louvável) objecção de consciência dos profissionais naqueles centros de saúde? Ou estará a contar com uma maior eficácia das “pressões” sobre os (poucos) enfermeiros e médicos dos centros de saúde do que aconteceu nos grandes hospitais? Anunciando o projecto para arrancar já na próxima semana em Viana, os boys do PS nas direcções dos centros e/ou da própria DRS-Norte lá terão a sua estratégia para fazer as coisas, e talvez contem com o factor-surpresa para impedir a tomada de consciência e consequente resistência dos cidadãos discordantes.

E é justamente a essa consciência que esta mensagem em primeiro lugar se destina. Não podemos ficar de braços cruzados à espera que nos transformem os nossos centros de saúde em campos de extermínio humano. Não podemos aceitar que as mãos que de manhã nos prestam os cuidados de saúde primários, sejam de tarde postas ao serviço da morte de seres humanos inocentes. Antes que alguns de nós, por nojo, se sintam obrigados a deixar de entrar nestes locais hoje exclusivamente consagrados à protecção das nossas vidas, melhor é que demos as mãos para impedir que nos roubem o que é nosso: os nossos centros de saúde, os nossos médicos e enfermeiros sempre solidários, competentes e conscientes do valor absoluto da vida humana.

As formas concretas do nosso protesto podem ser mais ou menos imaginativas e diversos os arautos. Das mais silenciosas - como vigílias de oração nas igrejas - às mais ruidosas, como buzinões diante dos centros de saúde ameaçados. Algo terá de ser feito se não quisermos ver à nossa porta os primeiros centros de morte deste inaudito programa de “aborto de proximidade”. No limite não será de excluir mesmo a convocação de uma manifestação ordeira – todos sabemos como o “sms” e o email podem operar “milagres” de mobilização cívica. E, por falar em milagres, num momento tão funesto não será de desaproveitar a “força dos sinos” numa diocese como a do Porto, particularmente animada pelo novo pastor que do Alto lhe foi dado.